domingo, 25 de novembro de 2007

Aconteceu – Palestra: “a capoeira em Niterói - De todas as maneiras... Niterói” - SESC Niterói - Rua Padre Anchieta, 56 - Centro - Niterói/RJ, Brasil

Aconteceu – Palestra: “a capoeira em Niterói - De todas as maneiras... Niterói” - SESC Niterói - Rua Padre Anchieta, 56 - Centro - Niterói/RJ, Brasil - 24/11/2007 - sábado - 10h às 12h - Entrada gratuita.

Link para as fotografias do evento:

Da esquerda para a direita: Jean Pierre, Eliane Almeida & Antoane Rodrigues

Nossa anfitriã, Eliane Almeida, ao centro na foto acima, bibliotecária do SESC Niterói/RJ, ofereceu-nos uma estupenda recepção, digna dos melhores encômios e adequada ao imaginário de quem espera ser bem recebido em casa alheia. Parabéns.

A palestra foi proferida pelo casal de historiadores Antoane Rodrigues do Carmo & Jean Pierre Guerra Domingues, seguida de uma mesa redonda de mestres de capoeira e depois, como não poderia deixar de ser, uma roda de capoeira. Um sábado culturalmente maravilhoso no SESC Niterói/RJ, com lanche e almoço.

Antoane Rodrigues do Carmo é bacharela com licenciatura plena em história pela Universidade federal Fluminense, pesquisadora da história de Niterói, com ênfase na história cultural. Trabalha com escravatura e abolição, patrimônio cultural e educação patrimonial, feminismo, entre outros interesses conexos.

Jean Pierre Guerra Domingues é bacharel com licenciatura plena em história pela Universidade Federal Fluminense, pesquisador da história de Niterói, com especial interesse em história social. Desenvolveu trabalhos de pesquisa sobre escravatura e abolição, patrimônio cultural e educação patrimonial.

O douto casal de historiadores, responsável pelo Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Niterói, explicou, pelas palavras da pesquisadora Antoane, de forma clara e concisa, a evolução da capoeira em paralelismo ao desenvolvimento sócio-cultural e político de Niterói, bem como apontou a dificuldade de se mostrar na topografia atual os registros pretéritos da capoeiragem niteroiense.

Num breve relato, contou-nos, a historiadora, sobre os negros calhambolas do século XVIII que, a despeito da definição do dicionário Aurélio que sinonimiza calhambola a quilombola, só queriam a fuga e liberdade e trabalhavam em serviço de apoio às tabernas, como leões-de-chácara, o que motivou a Junta do Governo do Rio de Janeiro, em Carta de 14 de fevereiro de 1763, ordenar a prisão dos calhambolas e o fechamento das tabernas; contou também, Antoane, que já no século XIX, 07 de fevereiro de 1820, foi decretado a prisão para qualquer indivíduo que estivesse na rua após as 22 horas e, acrescentou, que em 21 de dezembro de 1821 foram tomadas medidas severas e punitivas para coibir que escravos e vadios andassem armados; em 1823 foi criado e posto em prática o Código de Posturas para conter rebeliões de negros, deter calhambolas e impedir o avanço da capoeiragem, num objetivo específico de impedir que portugueses fossem vítimas de capoeiras na cidade de Niterói; em 1835 é instituída, em 27 de março, a Lei nº 5 que contém, coíbe e pune o crime de insurreição de escravos; em 1836, a Lei de 13 de abril aplica a pena de prisão e multa a todos que consentissem em suas propriedades ritos africanos, como candomblé e danças de negros; entre outros atos restritivos à liberdade dos negros em Niterói a culminar com o Código Penal da República, de 11 de outubro de 1890, que infere diretamente Dos Vadios e Capoeiras e possibilita o aparecimento feroz de João Baptista Sampaio Ferraz (o Cavanhaque de Aço) como chefe de polícia a dizimar com a capoeira brasileira, principalmente no Rio de janeiro, e Niterói estava muito próxima da Capital da República...

Foi-nos mostrado, com ilustrações outras (diferentes do verdadeiro acontecimento), mas a facilitar o entendimento do que seriam as encarniçadas lutas entre maltas rivais, os encontros entre os Guaiamus e Nagoas na Cidade de Niterói.

Foi dado destaque ao “Guaiamu” Cipriano José de Moraes, o Preto Cipriano, nascido em 1861 e morto por ferimento a bala, em 22 de dezembro de 1903, num encontro com o “Nagoa” João Bacalhau que “jogou sujo” e alvejou-o com um tiro pelas costas no seu último encontro de maltas. Apadrinhado político por razões eleitoreiras, vivia em grande conforto na Cidade de Niterói onde realizava festas memoráveis e mantinha bom relacionamento com a “Malta Guaiamu” do Rio de janeiro. Tinha ainda como inimigo de facção rival o “Nagoa” Natalino Gonçalves de Souza.

Finda a palestra, muitos aplausos de satisfação e foi logo iniciada a mesa redonda dos mestres presentes:

Link para as fotografias do evento:

Na fotografia acima, da esquerda para a direita:

Eliseu dos Santos Felipemestre Zezeu - mediador – presidente da Federação Fluminense de Capoeira;

Raimundo Silva Filhomestre Raimundo;

Luiz de Jesus Moreira Cavalcantemestre Canelinha;

Renato de Almeida Cunha Bastosmestre Renato;

José Machado dos Santosmestre Machado;

Gilberto de Lima Gilmestre Gil;

Rogério da Silva Vieiramestre Rogério; e

Antonio Carlos Soares Daniel mestre Liu.


Todos falaram sobre as suas ricas experiências de vida capoeirística, as suas produções e os seus diferentes e complementares métodos de trabalho pela capoeira, como trabalham e quais as suas características de ensinamento.

Destaques para mestre Zezeu a convidar a aluna Cinthia Elias Ferreira a ir à mesa dar depoimento sobre a influência benéfica da capoeira em sua vida. Foi emocionante e exemplar; e para os capoeiristas da terceira idade alunos dos mestres Renato e Raimundo; sem esquecer mestre Machado, transbordante de cultura acadêmica e capoeirística, a servir de exemplo aos jovens, mostrou como é ser capoeira respeitado e cidadão de sucesso na sociedade organizada; mestre Canelinha e o seu trabalho no Estácio, área pobre do Rio de janeiro; mestre Rogério também a servir de exemplo aos jovens que desejam ser mestres e o que fazer quando se chega lá; mestre Liu com a sua experiência e sabedoria; e mestre Gil, sucinto e simpático, mestre de vários mestres.

O evento foi altamente profícuo e lá aprendemos mais, saímos com mais conhecimentos sobre a história da capoeira e com a certeza de que para aprender a jogar capoeira, devemos concomitantemente, ou antes, mesmo, aprender sobre o conjunto de conhecimentos adquiridos através da tradição e, ou, por meio dos documentos, relativos à evolução, ao passado da capoeira e às condições sociais e políticas que encetaram a sua criação e evolução em solo brasileiro e agora no mundo todo, porque é certo que ela (a capoeira), indo lá para o estrangeiro, voltará com novidades as quais teremos que administrar na nova síntese da eterna dialética da vida a qual a capoeira não pode se furtar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns a todos que organizaram e participaram do evento; precisamos de mais trabalhos – sejam eles quais forem – que envolvam tentativas de "criar uma história” com corpo mais robusto a respeito da capoeira, apesar de toda dificuldade por falda de "documentos".
Fica a seguinte sugestão: maior divulgação, pois mesmo tendo sido pesquisador do projeto "Capoeira como patrimônio imaterial do Brasil" pelo Ministério da Cultura, pesquisador da FIOCRUZ, Mestre em Ciência da Arte pela UFF com tese em capoeira, mas principalmente por ser capoeirista em Niterói desde os anos 70, não fiquei sabendo deste importante evento para a capoeiragem de Niterói.
Finalmente, gostaria de saber onde adquirir um exemplar da obra.


Mais uma vez, parabéns e muito Axé!
David Bassous (Zelador Cultural Bujão).