sábado, 2 de agosto de 2008

André Lacé - CAPOEIRAGEM NO BRASIL - IPHAN & Em Vão

From: André Luiz Lacé alace@xxxx.com.br>
Date: 30/07/2008 16:59

Subject: Re: Ajuda para a monografia da prof. Darlene Costa.

Prezado Professor Joel Pires,

"Informação é poder", daí o grande mérito do seu banco de dados capoeirísticos.

Daí, também, o excepcional marketing baiano, em cima das lições aprendidas no Rio.

Com razão, Mestre Bimba elogiou Zuma, Acordeon elogiou Artur, um baiano carioca. Gilberto Gil não estaria onde está se não vivenciasse o Rio, da mesma forma o brilhante e simpático Dr. Sodré. A Regional foi redigida por acadêmicos de medicina com base nos acadêmicos de medicina do Rio de Janeiro que, décadas antes, adotaram Cyriaco como grande Mestre. De pano de fundo a eterna necessidade dos governos, especialmente ditatoriais cooptarem lideranças populares. O confronto da capoeira baiana com as demais lutas, onde Bimba brilhou (além de lutar, assessorou a definição do regulamento utilizado nos confrontos e ainda foi juiz da última luta) foi também inspirado nos confrontos realizados, décadas antes no famoso Pavilhão Internacional do Paschoal Segreto (onde Cyriaco brilhou).

Por outro lado, segundo os especialistas, "informação demais desinforma", daí minha preocupação sobre a boa intenção da Professora solicitante que, soterrada em boas dicas, pode acabar optando por uma monografia sobre judô, bola de gude etc.

Por oportuno, para seus arquivos implacáveis, mando foto do Cirandinha (que jamais será lembrado pelo IPHAN baiano; pudera, pois tombou na rasteira - quem mais tarde viria a tombar - tombamento cultural patrimonial! - a Capoeira). Também por oportuno mando foto de menino do Rio jogando bola de gude enquanto aguarda jogo de capoeira; e, longe de esgotar o assunto, mando foto da Torre de Tombo, que, mais do que IPHAN, registra preciosidades sobre a cultura brasileira (sem regionalismos...).
No próximo fim de semana, meu aniversário, estaremos aí na sede do Iate Clube do Rio de Janeiro em Cabo Frio, entrarei em contato para tentar uma papoeira.
André Luiz Lacé

P.S. Depois da vitória histórica sobre o campeão do jiu-jitsu, Mestre Cyriaco foi descansar, em Minas Gerais, na fazenda do Deputado negão Monteiro Lopes (veja foto). Bobagem, importante mesmo é a relação de Amor e Ódio que a estilizada Regional tem com a tradicional Angola (está no Cordel).
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31/07/2008 10:38

Re: André Lacé em Cabo Frio/ RJ & CAPOEIRAGEM NO BRASIL - IPHAN & Em Vão

Prezado Joel Pires,

Aniversário chegando - 70 anos! - hora, portanto, de altas reflexões.

Inclusive sobre a nossa Capoeiragem, e tendo em vista seu louvável e competente esforço de agregar e somar sinergicamente a inegável contribuição de cada mestre e pesquisador.

Há mais de cinqüenta anos atrás fiz minha primeira visita a Salvador. Fiquei hospedado, para minha honra, na casa do Mestre Divaldo Franco. Logo nos primeiros dias, sentado no antigo Mercado Popular, limitei-me a escrever uma única frase nos cartões postais que comprei para enviar aos amigos no Rio Maravilha: "A Bahia é fundamental".

E olha que, naquele tempo, o Pelourinho não era essa beleza que é hoje, até fedia. O que fez Mestre Bimba, numa outra visita que fiz, reconhecer que estava perdendo aluno novo para seus alunos antigos que começaram a ensinar em lugares mais nobres. Disse sem acusar ninguém, apenas uma constatação irônica e, convenhamos, verdadeira. Quando Bimba abandonou Salvador (por sentir-se abandonado pela Cidade) estava apenas com três alunos, com a Igreja em cima, cobrando aluguel. Fiz longa entrevista com ele para meu programa na Rádio (RJ), ficando surpreso com o alto de grau de consciência que Bimba tinha do que, então, eu já chamava de processo de institucionalização da capoeira (lamentável, mas inexorável!).

O que nos leva ao IPHAN e ao evento recente, em Salvador, sobre a Capoeiragem.

Faltou grandeza cosmopolita, característica do Rio de Janeiro e, agora, por ser a cidade mais desenvolvida da América Latina, característica de São Paulo também. Tais cidades louvam, evidentemente, suas virtudes, mas sabem gozar também, até na frente dos outros, suas próprias mazelas. Sobretudo, tais cidades pensam e agem de modo cosmopolita, interagindo intensamente com as demais cidades do Brasil e do mundo. Sendo que "interagir" não significa marketing pessoal intenso nas demais cidades.

Onde quero chegar?

Faltou visão & ação cosmopolita no tombamento da Capoeira, pelo IPHAN, em Salvador. Faltou, também, conhecimento da verdadeira história afro-brasileira da Capoeiragem. Pelo que andei vendo na TV, faltou até a Capoeira tradicional. Grandes mestres da velha capoeira não saíram na FOTO, nem da própria Bahia, nem dos demais estados. Nenhuma menção aos pesquisadores, jornalistas e escritores do passado, todos do RIO ou vivendo no RIO, que garantiram o atual resgate da Capoeira: Plácido de Abreu, ODC, Zuma Burlamaqui (tão elogiado por Mestre Bimba). Nenhuma palavra sobre o episódio histórico de Juca Reis, sobre Manduca da Praia, Camisa Preta, as famosas Maltas, o Povo da Lyra, os Cafajestes, o Povo Escovado (crédito para a Redação do jornal O MALHO). E quanto ao Mestre Cyriaco, que venceu o campeão japonês e que ensinava Capoeira para os acadêmicos de medicina no Rio de Janeiro?

Como promover um evento desses e não convidar especialmente o campeão Rudolf Hermanny?

Como não convidar o professor-doutor Luiz Sergio Dias ("Quem tem medo da Capoeira"?)?

Como não convidar um Lamartine Pereira DaCosta?

Como não convidar um Nei Lopes?

E quanto ao Artur Emídio de Oliveira, baiano de Itabuna, extraordinário mestre, que não jogava nem "angola" nem "regional", jogava, simplesmente, Capoeira?

Resumindo, tivesse o evento sido no Rio, na Porta do Sal, por exemplo, extraordinárias figuras dos demais estados estariam presentes e seriam reverenciadas. O evento repercutiria muito mais, seria menos bairrista, mais cosmopolita, menos capoeira contemporânea (a TV só mostrou grupos uniformizados e bem comportamentados como se fossem bons alunos, robotizados, de algum colégio religioso; disciplinados e previsíveis em sua movimentação circense-capoeirística) e mais capoeira-capoeira.

Em suma, não estaria na hora das lideranças do Rio de Janeiro atualizarem as placas da Rua Agenor Sampaio?

Você entendeu a simbologia.

Cordialmente,

André Luiz Lacé

3 comentários:

Anônimo disse...

Fábio Camargo - a_decencia@xxx.com
para Capoeira Jogo Atletico Brasileiro - euj7405@gmail.com
data 03/08/2008 09:10
RE: Andre Lace - CAPOEIRAGEM NO BRASIL - IPHAN & Em Vao.

Obrigado pelo rico material mestre.

Abraços:

Fabinho
Porto Alegre/RS

Anônimo disse...

GOES ODILON - hidrocapoeira@xxx.es
para Capoeira Jogo Atletico Brasileiro - euj7405@gmail.com
data 03/08/2008 13:55

CARO PIRES, POR GENTILEZA SOLICITO A DEFERÊNCIA PARA ENCAMINHAR ESSA MENSSAGEM AO SEÑOR ANDRE LACE.

CARO SENHOR LACE, não o conheço pessoalmente, mas já tive o privilégio de ler algumas de suas crônicas, ensaios e artigos além da referência que o grande ensaista e camarada Fred Abreu sempre reputa a sua pessoa, quando em conversas informais comigo. Sua observação é pertinente e reflexiva. Infelizmente eu não estive presente ao ato e a ceremônia deste, estava fora do país em estudos de doutorado na Universidad de Salamanca. Concordo com Vsa., em parte, credito que a referência da capoeira cultuada e praticada no Rio de Janeiro é reputável seu acervo e sua memória. Todos esses icones e heróis personificados em cidadões afrosdecendentes, teriam que serem adunados a esse patrimônio imaterial. "Quanto ao fato do ato cerimônial ser em Salvador da bahia, presumo que seja, oprtunidade do momento político"!
Odilon Jorge Góes

Anônimo disse...

Daniel Nunes - capoeirato10@hotmail.com
para: RedentorSocial Associacao - redentorsocial@gmail.com
data: 05/08/2008 10:49
assunto: RE: [Capoeira Redentor] Andre Lace - CAPOEIRAGEM NO BRASIL - IPHAN & Em Vao.

olá fico muito grato pelo convite axé